Previsão do primeiro dia de aula

1) Numa escola normal, acho que as pessoas olham seus nomes naquela folha de papel grudada na parede e vão para suas respectivas salas, esperar seus professores. Mas na minha escola, que é uma mistura bizarra de hospício (as vagas nunca acabam, então a cada ano entram loucos novos) com campo de guerra (as pessoas se empurram como se houvesse uma manada de elefantes de TPM vindo atrás delas atrás de chocolate) os alunos olham seus nomes, e ficam lá, amaldiçoando a pessoa que fez a lista e as colocou numa sala nada a ver, ou rindo à toa porque caiu com a thurma. É isso mesmo. Então ver seu nome na maldita folha de papel na parede se torna uma missão quase impossível. Você leva cotoveladas, empurrões, e chega a pensar que no ano seguinte irá experimentar usar uma armadura. (Eu já pensei)

2) Ok, passada a fase dos elefantes, chega a fase do impacto de saber na sala onde você caiu. Não é nem a sala, mas com quem você caiu. Por que como em qualquer escola normal, todo mundo tem uma fama. A santinha, a doida, a perturbada, a CDF, e por aí vai. mas no meu caso, como fazem bem... peraí, deixa eu lembrar... hum... dois anos que eu caio completamente sozinha, isolada do pessoal, eu nem espero cair com alguém que eu conheça. Mas escuto muitos 'A gente tem que mudar de sala!' ou 'Espera só eu encontrar a diretora!' zumbindo na minha cabeça. Fazer o que, tsc.

3) Eis então que chega a hora da sala de aula. É aquela coisa estranhérrima. Mesmo sabendo que quando for no final do ano você não vai ter nem aí pro povo da sala, ainda fica aquele constrangimento no ar. Quero dizer, você entra, feito um gato espichado, todo encolhido, e senta no seu lugar. E aí as pessoas vão entrando também. Umas rindo, totalmente à vontade, e outras, como você, encolhidas no canto, na sua, o que na maioria das vezes é interpretado errado. O bom disso é que te acham meio intimidante e não falam com você, até mesmo os atrevidos. E vou te contar, estudar numa escola desde a 6ª série te faz saber todas as manhas para se livrar de possíveis perseguições daquelas pessoas sacanas. Acredite, nesse quesito, até que eu me saio razoavelmente bem.

4) Chega a hora dos professres entrarem na sala. Os que você conhece e sabe que são gente boa, passam batidos. Mas e aqueles novos que parecem parentes dos elefantes com TPM atrás de chocolate? Não me refiro à gordura, claro. Mas ao humor. E quando o professor é assim... coitado. Os alunos, que não são e nem nunca serão flores que se cheirem (eu tenho a "sorte" de cair nas salas mais afoguetas e encrequeiras do colégio. Isso já me rendeu poucas e boas, já vi CADA COISA... nem te conto) começam a pirraçar. É bolinha de papel ali, acolá, risadinha, piadinnha, e quando tem um artista na sala, até desenho eles criam. E o desenho vai passando de mão em mão até a hora que o profº se zanga. Nessa hora, o desenho some misteriosamente. E você, como bom telespectador, apenas gira os olhos inocentemente, rá. Esse professor já está marcado com o xis vermelho e a caveirinha do lado. Direto pro céu, sem escala.

5) Mas tem aquele professor filho de uma topeira cegueta que é o cão chupando manga. O cara entra na sala e já tasca lição na lousa mais rápido do que a mãe do super 15. Tem gente que copia, tem gente que se revolta... no fim das contas você acaba copiando, enquanto escuta um sermão - chato pra dedel - do professor falando que nós, alunos, estamos na escola para estudar e bláblablá. Eis então que eu, pelo menos, uso minha tática infalível: Olhar para fora, pela janela, como se tivesse uma coisa muito interessante lá. Porque como não costumo jogar bolinhas de papel e nem desenhar o professor com um bigodão igual ao do Zé Bonitinho numa folha, não me sinto culpada e nem nada, e já conheço de cor o discurso dos professores. Então olho pra fora mesmo, me desconecto um pouco do que o professor fala, olhando para fora como se Elvis Presley estivesse ressuscitando ali, na minha frente. Mas é claro que não tem nada disso, né. Na verdade é só muro branco, e uma vegetação mal-cuidada e espessa que alguém rega vez ou outra. Mas enfim... eu sei que dá certo, eu começo a pensar em outras coisas e a voz do professor vai se tornando baixa e distante, e quando me dou conta, o sinal játocou. O sinal, aliás, parece aquelas campainhas de metrô. Incomum. Já dei muita risada com apelidos inusitados que a escola levou por causa dela.

6) Tem sempre um professor que deve fazer parte da seita vamos-ferrar-com-quem-cai-sozinho-nas-salas que passa um trabalho em dupla, em trio, em quarteto, em quinteto, em sexteto (?), e por aí vai. E você, que não conhece ninguém, fica feito um um pino de boliche esperando alguém jogar uma bola e te derrubar também. Sim, por que todo mundo derruba todos os pinos, e você continua lá. Enfim... às vezes dá vontade de fazer dupla com uma pedra, falando sério. É normalmente nessas horas odiosas que você avista alguém também sozinho, e como você é uma pessoa corajosa que não quer pagar o mico ou o preço de ser incluso em um dos grupos que provavelmente te acham estranho (a), e não tem nenhuma pedra por perto, você vai até essa pessoa, e sim, pede do jeito mais educado possível para fazer dupla com ela. Na maiorias das vezes, elas aceitam. Abrem sorrisos aliviado e arrastam a cadeira para sentar ao seu lado. É geralmente assim que conheço a pessoa que vai me agüentar o ano inteiro. Ou não. Mas enfim...vale a pena. Melhor tentar e escutar um não do que fazer dupla com uma pedra. Com todo respeito as pedras, claro.

7) E a hora da saída! Por Deus, acho que essa hora é a melhor. Só pere para a hora do intervalo, que é quando você vê seus amigos. Mas enfim... pelo menos para mim o primeiro dia de aula geralmente é assim. Não sei para os demais, mas... tá aí. Mais um post no-sense, rá.


Beijos nada ansiosos pelo começo das aulas